Mário Chamie
Mário Chamie, poeta, professor, publicitário e advogado, nasceu em Cajobi/SP em 1933. Aos quinze anos muda-se para a cidade de São Paulo, onde, em 1956, conclui o curso de ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Seu primeiro livro de poesia, Espaço Inaugural, foi lançado em 1955. Seguiram-se O Lugar (1957) e Os Rodízios (1958). Em 1962, publicou Lavra Lavra, que instaurou o “poema-praxis”; o livro recebeu o Prêmio Jabuti, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. No mesmo ano, fundou a revista Praxis, contando com a colaboração do modernista Cassiano Ricardo, do crítico literário José Guilherme Merquior, do cineasta Cacá Diegues e dos críticos de cinema Jean-Claude Bernardet e Maurice Capovilla. Em 1963, convidado pelo Itamaraty, realiza uma série de conferências sobre literatura brasileira em países da Europa e do Oriente Médio. Recebeu, em 1977, o Prêmio de Poesia, pelo livro Objeto Selvagem, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Entre 1979 e 1983 foi Secretário Municipal de Cultura de São Paulo SP, atuando na criação da Pinacoteca Municipal, do Museu da Cidade de São Paulo e do Centro Cultural São Paulo. Em 1994, conclui o doutorado em ciência da literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Em 2004 assume o cargo de professor titular de comunicação comparada da Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM de São Paulo.
Mário Chamie é um dos principais nomes da tendência de vanguarda surgida no final dos anos de 1950, como dissidência do Concretismo: a poesia-práxis. Para a crítica Nelly Novaes Coelho, “altamente consciente da revolução da linguagem que se vinha operando na poesia brasileira desde as conquistas de 22, Chamie assume-a como ‘revolução do conhecimento’ e como ‘consciência política’.” Sua obra poética inclui os livros Now Tomorrow Mau (1963), Planoplenário (1974), Objeto Selvagem (1977), Natureza da Coisa (1993) e Caravana Contrária (1998), entre outros. Seus poemas foram publicados em francês, inglês, italiano, espanhol, alemão, holandês, árabe e tcheco.
Morreu em 2011, na cidade de São Paulo.
Obra de Mario Chamie: Espaço Inaugural, 1955; O Lugar, 1957; Os Rodízios, 1958; Lavra Lavra, 1962; Now Tomorrow Mau, 1963; Planoplenário, 1974; Objeto Selvagem, 1977; Natureza da Coisa, 1993; Caravana Contrária, 1998; Horizonte de Esgrimas: Poemas, 2002; Caminhos da Carta: uma leitura antropofágica da carta de Pero Vaz de Caminha, 2002; A Palavra Inscrita: Ensaios, 2004; Paulicéia Dilacerada: monólogo póstumo dialogado de Mário de Andrade, 2009
Cava,
então descansa
Enxada; fio de corte corre o braço
de cima
e marca: mês, mês de sonda.
Cova.
Joga,
então não pensa.
Semente; grão de poda larga a palma
de lado
e seca: rês, rês de malha.
Cava.
Calca
e não relembra.
Demência;mão de louco planta o vau
de perto
e talha: três, três de pausl
Cóva.
Molha
e não dispensa.
Adubo; pó de esterco mancha o rego
de longo
e forma: nó, nó de resmo.
Joga.
Troca,
então condena.
Contrato; quê de paga perde o ganho
de hora
e troça: mais, mais de ano.
Calca.
Cova,
e não se espanta.
Plantio; fé e safra sofre o homem
de morte
e morre: rês, rés de fome
Cava.
(Lavra Lavra)